Acidentes de viação em Moçambique: A tragédia silenciosa que já não choca

Em Moçambique, os acidentes de viação tornaram-se uma tragédia silenciosa, tão comum que já não geram espanto. Todos os dias, relatos de mortes e feridos nas estradas entram nas manchetes e saem com a mesma rapidez, substituídos por novas tragédias que seguem o mesmo padrão.

O mais grave é que as causas são bem conhecidas: excesso de velocidade, condução sob efeito de álcool, desrespeito às regras de trânsito, estradas degradadas, veículos em más condições e uma fiscalização que, muitas vezes, é frágil ou corrompida. Se a viatura passa por um posto de controlo antes da hora recomendada para circulação porque deixou um “DUZE” ou ainda o semi-colectivo pertence a um chefe da INATRO, da Polícia de Trânsito ou a familiares, essa impunidade faz com que o motorista pise fundo o acelerador, porque tem a certeza de que não sofrerá nenhuma multa. Mesmo assim, muito pouco é feito para mudar esse cenário.

A resposta institucional tem sido tímida. Após cada acidente grave, surgem as habituais promessas de “melhoria na fiscalização” e “reforço das campanhas de sensibilização”, mas essas medidas raramente saem do papel ou têm impacto real. Enquanto isso, famílias continuam a perder entes queridos, e a indignação vai dando lugar à apatia.

Não se trata apenas de comportamento individual. O problema é estrutural. A ausência de uma política pública eficaz de segurança rodoviária revela uma falha séria do Estado em proteger a vida dos cidadãos.

É urgente reagir. O país precisa de um plano nacional de prevenção de acidentes que envolva: educação rodoviária nas escolas, fiscalização séria e sem corrupção, formação contínua para condutores, melhoria das estradas e um transporte público seguro e digno.

A vida nas estradas moçambicanas não pode continuar a ser tratada como um custo aceitável. Cada acidente é uma tragédia evitável. E cada morte é, também, um fracasso coletivo.