“O lamento mudo de uma jovem”
Ela passa despercebida: no meio do barulho das ruas, nas redes sociais, entre gritos não ouvidos, vive uma rapariga que chora em silêncio.
Seu olhar está distante, como se carregasse sobre si o fardo de um mundo invisível aos olhos alheios. Usa sorrisos emprestados, disfarces para esconder a dor, em uma sociedade que não sabe lidar com emoções reais. À primeira vista, parece apenas mais uma entre muitas jovens. Mas dentro dela, um turbilhão.
Não há lágrimas visíveis. Seu choro é interno — abafado pelas expectativas sociais, pela pressão, pela falta de escuta. Um choro que não molha o rosto, mas encharca a alma.
Em tempos de discursos sobre liberdade, saúde mental e empoderamento, muitas jovens continuam sem espaço para ser ouvidas. A dor feminina é frequentemente desconsiderada como exagero; a tristeza, tratada como drama; a ansiedade, vista como fraqueza. Quantas vezes ela tentou falar? Quantas vezes foi interrompida, ignorada ou rotulada?
Há ainda aquelas que foram silenciadas para sempre. Violências físicas ou psicológicas, assassinatos, negligência — são histórias que se repetem, rostos que se perdem, nomes que raramente são lembrados. Vidas apagadas por uma estrutura que insiste em calar, invisibilizar.
Mesmo assim, ela resiste. Acorda, caminha, estuda, sonha — mesmo em silêncio, esses atos são expressão de coragem.
A reflexão que fica não é “por que ela chora?”, mas sim: “Por que ainda não a ouvimos?”
— Milton Jambo